O Brasil atingiu um marco histórico na educação superior em 2024: pela primeira vez, o número de estudantes matriculados em cursos de educação a distância (EAD) superou o ensino presencial.
Dos 10,22 milhões de universitários brasileiros, 5,18 milhões (50,7%) estão cursando graduação na modalidade online, segundo dados do Censo da Educação Superior 2024, divulgado nesta segunda-feira (22) pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
Os números revelam uma transformação no perfil da educação superior brasileira. Em uma década, as matrículas em EAD aumentaram 286,7%. Para se ter uma ideia da dimensão dessa mudança: em 2014, dois em cada dez estudantes de ensino superior estavam matriculados em cursos a distância. Em 2024, são quase sete a cada dez.
Presencial em queda Enquanto o EAD disparava, o ensino presencial seguia o caminho inverso. A modalidade presencial registrou queda de 22,3% nas matrículas nos últimos dez anos, consolidando uma inversão de tendências.
“Estamos com 10 milhões de estudantes, e essa é uma marca a comemorar”, afirmou Manuel Palacios, presidente do Inep, durante entrevista coletiva na manhã desta segunda-feira (22).
Em nota, os diretores da Conteúdo Edu avaliou que “o aumento do EAD faz um alerta para uma adequação das instituições de ensino. Este cenário não desmerece o ensino presencial, mas exige que as IES repensem suas estratégias. Quando uma instituição decidir ofertar o presencial, precisa oferecer diferenciais que façam o aluno optar por essa modalidade, seja por meio de laboratórios de ponta, experiências práticas diferenciadas, networking ou metodologias que só o ambiente físico pode proporcionar”.
Pedagogia domina geral, Direito lidera presencial O curso de Pedagogia mantém a liderança absoluta como o mais procurado do país, com 887.695 matrículas no total. Na sequência aparecem Administração e Direito.
A diferença fica clara quando se separa por modalidade: Pedagogia é líder no EAD, com 733.253 estudantes a distância, mas tem 154.442 alunos presenciais. Já Direito é o campeão presencial, com 652.960. Ranking dos cursos no EAD:
Ranking dos cursos presenciais:
Setor privado concentra oferta A expansão do EAD está ligada ao crescimento do setor privado na educação superior. Em 2024, a rede privada foi responsável por 95,8% do total de vagas oferecidas em cursos de graduação.
Das mais de 23,6 milhões de vagas disponibilizadas no ano passado, cerca de 5 milhões eram presenciais, contra mais de 18,5 milhões à distância. Mesmo assim, a taxa de ocupação permaneceu baixa: 5.010.433 vagas (21,1%) foram efetivamente preenchidas.
MEC estabelece novas regras O crescimento do EAD levantou questionamentos sobre a qualidade do ensino e levou o Ministério da Educação a anunciar, em maio deste ano, a Nova Política de Educação a Distância. As principais mudanças estabelecem que graduações de Medicina, Direito, Odontologia, Enfermagem e Psicologia deverão ser oferecidas exclusivamente no formato presencial. Ademais, nenhum curso poderá ser 100% à distância.
A nova regulamentação exige que, no mínimo, 20% da carga horária seja cumprida presencialmente, seja na sede da instituição ou em algum campus externo, com todos os participantes fisicamente presentes, ou por meio de atividades síncronas mediadas, como aulas online ao vivo.
Crescimento de 2,7% ao ano Segundo o documento do Inep, em um intervalo de dez anos (2014 a 2024), o total de matrículas na educação superior aumentou 30,5%, ultrapassando os dez milhões de estudantes distribuídos entre universidades públicas (20,2%) e privadas (79,8%).
Rede privada domina com mais de 8 milhões de alunos A rede privada concentra mais de 8,1 milhões de estudantes, garantindo 80% de participação no sistema de educação superior brasileiro. Esse domínio não é recente: o processo de expansão da educação superior no país começou no final dos anos 1990.
Os dados revelam uma diferença marcante no perfil de oferta entre as instituições privadas. Nas instituições com fins lucrativos, somente 31% dos alunos frequentam cursos presenciais, ou seja, 69% estão no EAD. Já nas instituições privadas sem fins lucrativos, o cenário se inverte: 74% dos estudantes cursam modalidade presencial.
Em 2024, a rede privada foi responsável por 95,8% do total de vagas oferecidas em cursos de graduação. Das mais de 23,6 milhões de vagas disponibilizadas, somente cerca de 5 milhões eram presenciais, contra mais de 18,5 milhões à distância. Mesmo assim, a taxa de ocupação permaneceu baixa: 5.010.433 vagas (21,1%) foram efetivamente preenchidas.
Desigualdade no acesso revela diferenças entre redes de ensino Os dados revelam ainda que, na média nacional, 33% dos concluintes do ensino médio em 2023 se matricularam na educação superior em 2024.
A análise por rede de ensino, no entanto, expõe uma desigualdade no sistema educacional brasileiro. Na rede federal, 64% dos concluintes do ensino médio seguiram diretamente para a educação superior — proporção muito acima da média nacional. Entre os alunos da rede privada, a taxa chegou a 60%, patamar próximo ao registrado pela rede federal.
Já na rede estadual, que concentra a maioria dos estudantes do país, o índice diminuiu para 27%, o que representa menos da metade da taxa registrada pelas redes federal e privada.
Um novo capítulo da educação brasileira O Censo 2024 registra uma virada histórica na educação superior brasileira. Com o EAD superando o ensino presencial pela primeira vez, o país ingressa definitivamente na era digital do aprendizado, mas carrega consigo desafios estruturais que não podem ser ignorados.
“Os dados do Censo 2024 confirmam uma transformação que vínhamos acompanhando: pela primeira vez na história, a educação a distância ultrapassou o ensino presencial no Brasil", analisa Thiago Lustosa, diretor da Conteúdo Edu. “Esse crescimento de 286,7% em dez anos reflete uma mudança comportamental irreversível dos estudantes, que buscam flexibilidade para conciliar trabalho e estudo, especialmente em um cenário econômico desafiador", conclui.
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