Opnião
Por Renato Câmara
Sou contra a chamada PEC da Blindagem. Esse projeto veste uma capa de proteção que não deveria existir na democracia. Blindagem é para carros-fortes que transportam valores, não para políticos que deveriam prestar contas ao povo. Quem precisa de escudo permanente talvez tema a luz da transparência. E quem nada tem a esconder não precisa de trincheira.
Nos últimos anos, avançamos em medidas que abriram janelas onde antes só havia portas fechadas. A Lei de Responsabilidade Fiscal foi um desses marcos, ao impor limites, punir excessos e tornar públicas as contas do Estado. Mais adiante, em 31 de maio de 2017, o Senado aprovou a PEC 10/2013, que restringiu o foro privilegiado para crimes comuns, retirando o julgamento especial de milhares de autoridades e devolvendo à sociedade a expectativa de igualdade perante a lei. Foi um passo histórico, mesmo que ainda falte a Câmara concluir o processo.
Agora, a PEC da Blindagem caminha na contramão. Ao ampliar novamente os privilégios e criar barreiras contra investigações, ela reinstala um muro entre representantes e representados. Não podemos aceitar que a política vire uma redoma de vidro, onde poucos se protegem enquanto a maioria sofre os impactos da má gestão e da impunidade.
O Brasil precisa de luz, não de cortinas. Precisa abrir caixas-pretas, não criar cofres secretos. O povo exige clareza para saber quem trabalha de verdade e quem se esconde atrás de discursos. Essa PEC, em vez de corrigir distorções, tenta eternizar práticas que a história recente mostrou serem nocivas ao país.
Quero um Brasil de portas abertas, onde as ações sejam vistas e julgadas pelo cidadão. Um Brasil que não precise de muros altos em Brasília, mas de pontes sólidas que liguem representantes ao povo. Mais Brasil, menos Brasília.
Mín. 15° Máx. 32°